Padre nosso

Vou falar de uma ladainha, já bastante antiga. Ela acontece sempre do mesmo jeito! E quero deixar claro que não estou em defesa do padre! Eu gostaria de alarmar sobre uma anomalia que pode acometer seriamente, padres, advogados, médicos, professores, ou qualquer profissional idôneo, com nível superior ou não, e que pode muito bem levar à cadeia, escandalosamente e também à morte! Uma doença de evolução longa; para se diagnosticá-la, leva-se normalmente de dez ou mais anos de martírio; uma via sacra de tratamentos não acertados, e sempre associado a um uso indevido de antidepressivos! Até que numa destas eventualidades, como a que aconteceu com o padre Silvio Andrei em Londrina, possa escancarar a possibilidade de um tratamento ou até de um diagnóstico equivocado! Normalmente ela é encarada como “depressão pura” e por isto é tratada erroneamente apenas com antidepressivos e ansiolíticos! A doença a qual me refiro tem o nome bipolaridade. Não sei se tem a ver com o padre! Só sei que ela não escolhe a quem pegar, e pega de calça curta, desnudo, e pode causar imensos prejuízos e grandes vergonhas! O indivíduo bipolar, geralmente é boa pinta, carismático, pode ser uma pessoa de sucesso, grande líder, e habitualmente tem um quadro depressivo de base e uma tendência terrível à autodestruição nas crises de exaltação do humor! Seus antecedentes familiares demonstram passar, de uma geração para outra, histórias de alcoolismo, instabilidade familiar, violências físicas ou verbais! Será que o padre não era um bipolar rotulado de depressivo? Porque a impulsividade, a traição, o abuso do álcool, e vários outros transtornos como o abuso de drogas, compras excessivas, ataques alimentares, podem ser a outra face até então desconhecida de uma doença que não consiste só em depressão, mas sim na bipolaridade! Como existe a possibilidade do humor oscilar, tanto pra cima como para baixo (depressão), e para baixo todo santo ajuda (... até um anti-depressivo!), mas para cima o negócio é diferente! Vai ocorrer então uma grande excitabilidade, ou um escândalo inesquecível, especialmente quando o paciente bipolar estiver turbinado com um antidepressivo e com a bebida alcóolica! A estas crises de exaltação, a psiquiatria dá o nome de mania ou hipomania; esta é o lado oposto da depressão dentro da bipolaridade; ela é que salienta a variação do humor! O tratamento correto deve ser então, com medicações estabilizadores do humor, normalmente o carbolitium, ou com várias espécies de anticonvulsivos, e também com anti-psicóticos. Quando o bipolar não estiver assim, corretamente tratado, coisas muito esquisitas e graves poderão ocorrer! O estabilizador do humor pode livrar o doente de novos escândalos e ainda pode trazer menos sofrimento aos seus fiéis! Quem sabe o padre tivesse uma patologia assim, e se estivesse melhor tratado, o desfecho dessa sua história fosse diferente? Existe a hipótese dos bipolares terem que passar por situações humilhantes para então poderem lidar com as sujeiras da vida e carregá-las para a eternidade como uma memória de um tratamento não realizado! Eles acabam aprendendo com um alto custo para chegarem à verdade! Deus abençoe a todos os bipolares! E que os seus amores possam não mandá-los para o inferno! Que eles estejam livres de todos os males e sejam destinados precoce e adequadamente, não só para um tratamento exclusivo de depressão, mas sim e principalmente, para a bipolaridade, doença que já devia estar tratada muitos anos antes do seu primeiro diagnóstico.
Dr. José O. Cervantes Loli - Médico especialista em Endocrinologia e Medicina Psicossomática, em Apucarana.

Comentários

  1. Adorei o artigo. Me fez ver o quanto muitas vezes so enchergamos uma face dos acontecimentos.

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