No caminho de obeso a magro

Apesar de saudável o processo do emagrecimento pode ser extremamente estressante. Sobre este aspecto sabemos que os vários fatores causais da obesidade como os emocionais, comportamentais, metabólicos e hormonais, além de serem passíveis de melhora, podem ser o pivô do processo do estresse durante o tratamento.
Síndromes ansiosas estão relacionadas às compulsões alimentares, onde alimentos ricos em carboidratos e gorduras são ingeridos em grande quantidade num curto intervalo de tempo. Tudo isto para compensar sentimentos emocionais desconfortáveis, além de outras repercussões crônicas endócrino-metabólicas.
Quando se trata a ansiedade vai ocorrer uma melhora geral do organismo, pois hormônios hiperglicemiantes como o cortisol podem se estabilizar (não permitindo grandes aumentos nas taxas de açúcar no sangue), deixando também de concentrar excesso de gordura no abdome. O metabolismo tende a melhorar ainda mais através de medidas comportamentais, como exercícios físicos e acompanhamento nutricional. A insulina (hormônio que previne o diabete), também excessiva na obesidade abdominal, passa a cair com o decorrer do emagrecimento devido a uma importante melhora na sua função (a de fazer baixar o açúcar no sangue), propiciando uma perda ainda maior da “barriga”, especialmente nas mulheres com ovários policísticos e com problema de manchas escuras na pele, estrias, acne ou excesso de pêlos.
Mudanças neuroquímicas (cerebrais) naturalmente ocorrerão no longo prazo e fazem melhorar a auto-estima do paciente que se transforma em “ex-obeso”; euforia, novas conquistas lhes são reveladas, porém estas mesmas mudanças que levam à felicidade poderão levar também à depressão. Isto decorre do fato de algumas dietas serem muito restritas em carboidratos (alimentos que se transformam em açúcar), pois o organismo obeso estava dependente deles; a queda brusca do cortisol, hormônio que também é euforizante, faz piorar ainda mais a queda do açúcar no sangue (causando a chamada hipoglicemia). Em resumo, a melhora da ansiedade, aliada às mudanças metabólicas, como a queda no cortisol e a hipoglicemia, podem levar a outro pólo de doença, o depressivo. Manifestações de bipolaridade também podem ocorrer em pessoas obesas predispostas, através das chamadas “viradas maníacas” (onde a depressão se converte em crises graves de excitabilidade), precipitadas por medicações anorexígenas ou devido ao uso inadequado de antidepressivos. Nestes casos, a compulsão alimentar pode muito bem ser substituída por outras compulsões, relacionadas a compras, sexo, álcool ou drogas.
Outros sintomas relacionados ou não às crises de hipoglicemia também podem ocorrer, como a irritabilidade, enxaqueca, labirintite, piora dos sintomas de TPM (tensão pré-menstrual), insônia e oscilações da pressão arterial. Doenças ou disfunções na tireóide podem ocorrer com maior frequência em pessoas obesas que estão em processo de emagrecimento, piorando ainda mais os sintomas físicos e emocionais relacionados à obesidade.
Diante do exposto, faz-se necessário conhecer bem o paciente obeso para que se possa tratá-lo da forma menos penosa possível. A equipe de saúde responsável pelo tratamento da obesidade deve ser conhecedora das mazelas que afetam a difícil caminhada para transformá-lo num magro. Esta caminhada vai exigir muito conhecimento de quem trata a obesidade e de quem quer se tratar da obesidade. No final, o que deve ficar mesmo, é a sensação de que tudo valeu a pena!
Dr. José O. Cervantes Loli. Endocrinologista e Metabologista – Especialista em Obesidade e em Medicina Psicossomática.

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