A síndrome do Bussunda



Lendo o livro “Bussunda: a vida do casseta”, do jornalista Guilherme Fiuza, me deparei com a dificuldade em lidar com as nossas fraquezas, apesar do imenso do poder de criação, carisma ou intelectualidade que o ser humano possa ter.
Bussunda tentou do jeito que pode aliviar os seus problemas de saúde e seguir as recomendações do seu médico, porém sem nenhum resultado efetivo. Ele deveria ter uma grande dificuldade em lidar com limites que o seu corpo impunha, não tendo se dado conta, por exemplo, do risco que era ser um jogador de futebol dos finais de semana. Talvez ele pudesse ter se livrado da gordura ao comer, como um alcoólatra faz quando pára de beber. Numa passagem tensa do livro demonstra-se uma reação áspera de Bussunda em direção a um colega de trabalho, sobre a tentativa dele não mais ingerir gordura (Alemanha, copa do mundo de 2006): ele esfregou um copo de choop gelado no nariz do colega que tinha parado de beber.
Bussunda tornou-se portador da síndrome metabólica, onde ocorre uma deposição de gordura abdominal progressiva e capaz de engordar bastante o fígado trazendo níveis elevados de triglicerídeos no sangue, resultando numa diminuição do HDL, colesterol bom (detergente do organismo) e uma elevação do LDL, colesterol ruim, permitindo assim um entupimento arterial das coronárias, causando infartos. Além disso, a gordura abdominal passa a contribuir para a elevação da glicemia, fazendo surgir o diabetes, faz subir a pressão arterial.
O humor então começa a se alterar e os aspectos emocionais negativos passam a interferir ainda mais no processo de adoecimento. A tentativa de fazer dieta e a abstenção de alimentos antes prazerosos parece dificultar o processo de melhora e a aderência do paciente ao tratamento recomendado. A impotência, o isolamento social e a diminuição de concentração começam a ocorrer, especialmente quando aparece a apnéia do sono (dificuldade para respirar no período noturno) aumentando ainda mais o risco cardíaco.
Se o processo não for interrompido em tempo hábil a catástrofe se instala. A doença funciona como uma bomba relógio, prestes a estourar.
Esta síndrome tem tratamento seguro. As especialidades médicas melhor habilitadas para tratá-la são a endocrinologia e a cardiologia. Cabe aqui salientar que pacientes em tratamento psiquiátrico comumente desenvolvem esta síndrome, devendo serem acompanhados simultaneamente pelo psiquiatra e o endocrinologista.

Dr. José O. Cervantes Loli é Endocrinologista em Apucarana.










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