“Loucura metabólica”

Atendendo uma paciente obesa que perdera mais de 37 Kg e voltara a engordar 10 Kg, com diagnóstico de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), refleti com ela sobre o seu desejo de comer doces, que voltara exacerbado, ou seja, sobre sua auto-sabotagem aprendida metabolicamente, desde longa data e lembrei-me de uma passagem do filme “Uma mente brilhante”.
Quem tem SOP, independ
ente de possuir cistos ovarianos (20% dos casos não os possuem), pode apresentar menstruação irregular, obesidade (especialmente abdominal), excesso de pêlos, acne e hipoglicemia ocasionada pelo excesso de produção de insulina pelo pâncreas.
A insulina é um hormônio responsável em baixar a glicemia, nível de açúcar sanguíneo, para não surgir o diabetes, esta doença comumente aparece nessas pacientes, pois o pâncreas acaba entrando em falência, aumentando ainda sete vezes o risco para o infarto agudo do miocárdio. 
A paciente também tem uma genética pronunciada para o diabetes. Sua mãe é diabética e também gosta muito de doces. Provavelmente, já no útero da mãe, ela aprendera a desejar alimentos adocicados, daí pensei numa ”loucura por doces”.
É devido ao excesso de insulina que a glicemia cai (hipoglicemia); esta traz o sintoma de voracidade por doces. O problema é: quanto mais se come doce, mais insulina o pâncreas produz e mais hipoglicemia vai ocorrer, perpetuando este círculo vicioso. É isso que leva à obesidade. Pois quando a insulina retira o açúcar do sangue o transforma quase que totalmente em gordura. Quando se volta a comer doce, é como o vício pelo álcool, difícil de sair.
No filme Uma mente brilhante, o protagonista tem esquizofrenia, doença que o faz sair da realidade, ver e procurar coisas que não deveria. Mesmo medicado, em controle regular da sua doença ele ainda continua com visões e inclinação a “procurar coisas”. Por fim, ele arrumou um recurso para se proteger. Recorre a pessoas do seu lado perguntando se realmente o que ele vê deve levá-lo a praticar aquelas ações que ele aprendera nos momentos mais difíceis da sua doença, e as pessoas diziam que não, não precisava. Assim ele conseguiu sobreviver e dar conta da sua vida, protegendo-se da doença e vivendo com mais saúde, mental. 
Assim deveria viver a minha paciente, pedindo ajuda se precisar aos que lhes são próximos e recorrendo a tratamento médico especializado se necessário. Deveria também se perguntar, lá para a sua memória metabólica necessitada de doce, se realmente precisaria comê-lo e quais as estratégias ela articularia para não comer o doce, preservando-se magra. O doce para ela é o que produz a sua loucura, metabólica.

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